Desde “Navegar de Novo”, do álbum Loki? (1974), Arnaldo Baptista manifesta- se em prol das energias e práticas limpas, por exemplo, quando clama nesse excerto: “Por que não se instalam núcleos habitacionais menores/ para haver maior descentralização/ para existir o verde/ para haver espaço…”.
A frase “To Burn or Not to Burn” aparece, primeiramente, de 1993 a 1995 nas artes visuais de Arnaldo, no formato poèmes dessin (poemas expressos em arte visual). Ao longo da década seguinte, surgia seu manifesto pelo “fim da era do fogo”.
A compilação de remixes de “To Burn or Not to Burn”, música lançada no álbum solo Let It Bed (2004), retrata a profusão de artistas da música eletrônica undergound brasileira, que surgiram nos últimos anos, em um cenário musical diverso e expansivo.
O poema minimalista onipresente – “To burn or not to burn. What is the question? What? What?” – incorpora-se a cada um dos remixes de modo único, reflete décadas da história da música dance eletrônica desde os anos 60 até o momento, e propõe uma reverberação desses artistas ao manifesto de Arnaldo Baptista.
“O homem tem uma coisa meio piromaníaca e quer queimar tudo. E onde há fumaça, há fogo, poluição e motores de combustão. Então, eu defendo os motores elétricos… Não os ligados, como muitos falam, em motores auxiliares de hidrogênio, mas em células fotovoltaicas, que recebem energia proveniente do Sol e produzem eletricidade. Não são poluentes”
expressa Arnaldo Baptista.
No final de 2010, Holocaos e Sonia Maia, que gerencia a carreira de Arnaldo Baptista desde então, se conheceram e surgiu a ideia de propor remixes da música “To Burn or Not to Burn”, lançada no álbum Let It Bed (2004), produzido por John Ulhoa. Com um simples chamado, em menos de uma semana vários produtores aderiam ao projeto.
Sua atualidade, ao mesmo tempo vanguardista e ainda urgente, exigiu reapresentar ao público esse rico material em 2022, todo remasterizado, e incluir novos remixes com as assinaturas de Tata Ogan, DJ Mari Rossi, GALIZA e Renato Ratier, que se juntaram ao coletivo inicial, formado por Zopelar, L_cio, Magal, Tetine, Flu, Bmind, Glocal, Marco Andreol & Renato Patriarca, Holocaos, Thomas Haferlach e Renato Poletto & Ricardo Koji. O álbum conta, ainda, com a participação especial de diversos músicos e artistas, como Simone Sou, Natalia Barros, Guri Brasil, Karine Rossi, Maurício Badé, Kuki Stolarski, Roger Brito e Alexandre Jonny Patriarca.
A compilação desses remixes não poderia ter surgido em melhor momento. Em nenhum outro período da música nacional houve uma profusão tão diversificada da produção eletrônica.
A compilação desses remixes não poderia ter surgido em melhor mA frase onipresente de Arnaldo, que dá nome à música, se incorpora a cada um dos remixes de um modo particular e percorre décadas de história da música dançante. Lennox & Dani e Ratier visitam o Neo-Funk sintético dos anos 80, enquanto Poletto e Koji, L_cio e Magal buscam nos anos 90 o infinito repertório de Techno e House. Influências do Dub ressoam nos remixes de Flu e Thomash; ecos dos anos 70 e 80 – desde Indie Dance, Disco e primórdios de House – podem ser ouvidos nos de Zopelar, Andreol & Patriarca. Representando o livre experimentalismo: Holocaos, Bmind, Tetine e GALIZA. Ritmos orgânicos pulsam em Tata Ogan e a DJ Mari Rossi.omento. Em nenhum outro período da música nacional houve uma profusão tão diversificada da produção eletrônica.
A coletânea foi remasterizada e masterizada cuidadosamente por Vantonio, que respeitou cada um dos universos sonoros e a preferência de Arnaldo Baptista pelos equipamentos analógicos: equalizadores e compressores Bax, Pultec, Kush Audio, Empirical Labs e Thermionic Culture.