Separatismo é tema do projeto Mês a Mês na História em setembro no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul

O Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, sediado no Memorial do RS, promove exposição de documentos originais do acervo relacionados a contextos e assuntos importantes da história gaúcha. Trata-se do projeto Mês a Mês na História, que revela marcos e movimentos da nossa História a cada mês, apresentados de julho a dezembro deste ano, no primeiro andar. A edição de setembro inicia nesta sexta-feira (01) e segue até o dia 30, com entrada franca.

O projeto valoriza e incentiva a leitura de fontes primárias através da exposição de documentos com conteúdos de interesse da comunidade, revelando um conhecimento inestimável sobre a História do Rio Grande do Sul e do Brasil. Por outro lado, o desconhecimento desse material, mesmo entre o público erudito, torna esse acervo invisível e incapaz de cumprir sua utilidade como vestígios materiais da existência dos homens em vários tempos e lugares.

Uma República enfrenta o Império Brasileiro

(Por Rejane Penna, historiadora do Arquivo Histórico do RS)

A Revolução Farroupilha (1835-1845) sofreu um processo de mitificação que dificultou a sua discussão, à medida que foi transformada em símbolo de uma determinada imagem do Rio Grande. O Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul pode contribuir para uma melhor compreensão em torno desse conflito, pois possui em seu acervo uma das maiores coleções de documentos a respeito.

A cada ano, no mês de setembro, escolhemos uma temática dentro da Revolução Farroupilha.  No ano passado enfocamos os cotidianos, com ênfase nas lutas e dificuldades que passaram as mulheres, os índios e os negros e de como as cidades e o campo se organizaram para enfrentar as perdas e a violência do período.

Neste ano elegemos o “Separatismo”, com a fundação da República Rio-Grandense, em 11 de setembro 1836, até hoje fruto de intensas discussões sobre as suas reais motivações. Expomos alguns documentos relacionados à República Rio-Grandense procurando diversificar o conhecimento sobre nosso acervo. Acessamos diversos fundos, como Iconografia e Coleção Varela, mas privilegiamos a reunião de jornais e documentos da Coleção Ferreira Rodrigues, que está conosco desde meados de 1920.

Para ajudar a formarmos uma ideia do que foi constituir um governo republicano, com ministros, moeda e legislação próprios durante o conflito Farroupilha, selecionamos as seguintes imagens e documentos que fizeram parte desse período:

  1. Imagens:

– Bento Gonçalves da Silva, líder da Revolução Farroupilha.

– Antonio Ribeiro, considerado o corneteiro oficial de Bento Gonçalves.

– Davi Canabarro.

– Antonio de Sousa Netto, o homem que proclamou a República Rio-Grandense em 11 de setembro de 1836.

– Alegrete. O velho edifício onde se instalou, em 1842, a Câmara dos Deputados da República Rio-Grandense. O prédio sofreu modificações em 1910 (informações escritas no verso da fotografia e atestadas pelo Intendente Francisco de Sá Dornelles, em maio de 1921).

– Escudo de Armas da República Rio Grandense.

– Mapa do Rio Grande na época da Revolução Farroupilha.

  1. Documentos escritos:      

– Piratini, 1836: primeiro ano republicano para os Farroupilhas.  Piratini, então capital Farroupilha, registra dois decretos: no primeiro, declaram “inimigos da Pátria” aqueles que providenciarem recursos às tropas do exército brasileiro; no segundo, padre é demitido do cargo de Pároco, acusado de estimular alemães a desertarem das fileiras Farroupilhas.

– Piratini, 1838. A República Rio-Grandense concede título de cidadania aos colonos de São Leopoldo e Três Forquilhas (textos em português e alemão).

– Campos de Rio Grande, 1835. Um mês após o início da Revolução Farroupilha, o Jornal “O Noticiador” publica o chamado de Bento Gonçalves à população da cidade de Rio Grande para aderir ao movimento. Ainda não se fala em separatismo ou República.

– São Gabriel, 1838. Conclamação para que Guardas Nacionais entrem para as fileiras republicanas.

– Piratini, 1838. Atos para a estruturação da República Rio-Grandense. Regulamento para as coletorias.

– Alegrete, 1843. Projeto de Constituição da República Rio-Grandense. Assinaram José Pinheiro da Ulhôa Cintra, Francisco de Sá Brito, José Marianno de Mattos, Serafim dos Anjos França e Domingos José de Almeida.

– 1836. Bento Gonçalves, ao final de uma carta: “Não vacilemos, meu amigo, vale mais morrer livre do que viver escravo, como disse o grande Catão”.

– 1842. Tratado secreto celebrado entre os Farroupilhas e o Governo da Província de Corrientes. Essa cópia é atestada como idêntica à existente na Secção de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro pelo Chefe de Seção em março de 1898.

– 1839. Em carta dirigida ao Ministro da Guerra Interino, Domingos José de Almeida, Antônio Netto indigna-se com a ocupação de algumas fazendas por pessoas inescrupulosas. “Não posso com fria indiferença observar a maneira escandalosa com que alguns parasitas abusando da boa fé do governo destroem a substância pública em proveito de seus particulares interesses, conduta tanto mais criminosa e prejudicial quando se segue a perda da força moral da administração com a perda pecuniária à Nação”.

Mês a Mês na História – Setembro

Memorial do Rio Grande do Sul, no primeiro andar.

Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer

Rua Sete de Setembro, 1020

Praça da Alfândega – Porto Alegre/RS

De 01 a 30 de setembro.

De terça a sábado, das 10h às 18h; domingo, das 13h às 17h.

Entrada franca.

 

 

Por: Mariângela R. Machado