A ciência por trás das músicas chiclete

Pode ser “Call Me Maybe”, “Who Let the Dogs Out”, “Ai se eu te pego”, “Lepo Lepo” ou algo ainda mais infeccioso – uma hora ou outra, você já ficou com uma música presa na sua cabeça. Mas por quê? E como evitar isso?

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Este assunto é notoriamente difícil de se estudar, porque as músicas grudam na cabeça de forma involuntária: por isso, o mecanismo exato que causa este fenômeno no cérebro ainda não foi totalmente compreendido. Mas alguns cientistas acreditam que há um grande fator para explicar isso: a antiga prática da humanidade de passar conhecimento através de canções.

Na maior parte dos 200 mil anos de evolução dos seres humanos modernos, todo tipo de informação – fatos, histórias, processos – foi transmitido e relembrado por meio de palavras faladas e cantadas. Isto leva alguns cientistas a opinar que o cérebro humano se tornou altamente propenso a gravar informações faladas ou cantadas, e a lembrar-se delas quando necessário. Mesmo hoje em dia, muitos acham mais fácil se lembrar de algo usando uma rima ou um ritmo.

Isso pode ser uma predisposição antiga, ou algo relativamente novo na história humana, mas a teoria nota que a música é “multissensorial” e afirma que, enquanto as notas e letras são memorizadas, os sentimentos e ideias que a música dispara também são guardados em conjunto.

Não tenho carro, não teto e se cantar essa música um milhão de vezes é porque gosta
Não tenho carro, não teto e se cantar essa música um milhão de vezes é porque gosta

Depois, quando você se lembra do sentimento ou da ideia, isso também traz junto uma parte grudenta da música, algo chamado de “memória involuntária”. Quando isso acontece, nossos cérebros parecem determinados a terminar o que começaram – ou seja, tentam completar a música.

De fato, quando pesquisadores de Dartmouth tocaram pequenas amostras de músicas conhecidas para os participantes e um estudo, eles descobriram que o córtex auditivo do cérebro continuou a música na cabeça deles – mesmo depois que a música parou. Talvez não surpreendentemente, isso está associado a outro fenômeno: quanto mais você ouve uma música, maior é a chance de ela se repetir no seu cérebro. Além disso, pessoas com Transtorno Obsessivo Compulsivo mostraram uma tendência maior a ficar com músicas grudadas na cabeça.

Dito isto, de acordo com os Anais da 10ª Conferência Internacional sobre Percepção Musical e Cognição, mais de 90% das pessoas ficam com uma música pegajosa na cabeça pelo menos uma vez por semana. Estima-se que aproximadamente 98% dos humanos passarão por isso em algum momento da vida.

Cientistas identificaram dois fatores principais para uma música grudar na sua mente:

A música toca demais

Como dissemos, o motivo mais comum para isso acontecer talvez seja a exposição à música: por exemplo, se você a ouviu recentemente, e com qual frequência ela foi repetida. Na maior parte do tempo em que ouvimos música, escutamos coisas que já conhecíamos, e as chances de que ela se repita na mente são bem altas.

I know you want it… i know you want it… i know you want it (repete para sempre)
I know you want it… i know you want it… i know you want it (repete para sempre)

Dois exemplos de músicas que tocaram demais e podem facilmente ficar na cabeça são “Blurred Lines”, do Robin Thicke, e “Let It Go”, do filme Frozen.

Associação

Às vezes, um aspecto do seu ambiente dispara a lembrança contínua de uma música: pode ser uma palavra, uma pessoa, um ritmo ou uma situação específica. Por exemplo, enquanto você faz tarefas domésticas, músicas como “Car Wash”, “Dirty Laundry” e “Housework” podem começar a tocar dentro da sua cabeça.

Da mesma forma, podem se formar associações mais indiretas: por exemplo, algo acontece à sua volta quando você está ouvindo uma música, e seu cérebro conecta as duas coisas – mesmo que não tenham relação direta. Mais tarde, quando você se lembrar do mesmo ambiente, seu cérebro pode resgatar a música e repeti-la várias vezes na sua mente.

Características

Há certas características, tanto das músicas quanto das pessoas, que aumentam as chances de uma música ficar grudada na sua cabeça.

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Das músicas

Os sons que são mais prováveis de grudar na mente:

… tendem a ter notas com durações mais longas, mas intervalos de tons menores… [que são as] duas principais características que tornam uma música fácil de ser cantada, mesmo para quem é destreinado musicalmente… No fundo, uma música grudenta faz seu cérebro cantar…

Exemplos disso são “Centerfold”, “Love Shack” e “Poker Face”.

Das pessoas

Amantes de música

Em pelo menos um estudo, foi encontrada uma forte conexão entre pessoas que “colocaram a música em um grau muito alto de importância” e a frequência, duração e irritação causada por uma música grudenta. Isto pode acontecer porque apaixonados por música ouvem a mesma canção mais vezes que a maioria das pessoas.

Personalidade obsessiva

Como dissemos, as músicas têm mais chance de grudar em pessoas que tendem a ser mais obsessivas (mas não clinicamente neuróticas). Elas também relatam frequentemente a sensação de que têm menos controle sobre este fenômeno. Além disso, estudos mostram que, em alguns indivíduos, certos remédios usadas para tratar TOC podem reduzir a frequência com que músicas grudam na mente.

Cansaço, stress ou tédio

Músicas grudentas perseguem os ociosos, cansados e estressados, quando as defesas estão baixas e o cérebro não está muito ocupado. Isto é precisamente o que aconteceu com um montanhista ferido que, preso numa geleira e temendo sua própria morte, não conseguia tirar “Brown Girl in the Ring” da cabeça.

Há vários truques para você tirar músicas grudentas da sua cabeça.

Pense em outra música

Em um estudo britânico recente, um dos tratamentos preferidos de quem sofre com músicas grudentas é usar fogo contra fogo e pensar em outra canção. Entre os antídotos mais populares listados pelos participantes da pesquisa, estavam “God Save the Queen”, “Kashmir”, do Led Zeppelin, e “Karma Chameleon”, do Culture Club. (Nem sempre o remédio é uma música melhor…)

Pense em outra coisa

Uma especialista recomenda “usar suas palavras” para se esquecer de uma música grudenta. Ela nota que, ao conversar com alguém ou pensar nas palavras de uma cruzadinha, a letra da música será suplantada por novos termos.

Outros dizem que qualquer coisa que distraia você irá funcionar: “O importante é achar algo que te dê o nível necessário de desafio… se você está cognitivamente ocupado, isto limita a capacidade de músicas invadirem sua cabeça.”

Ouça a música

Se tudo mais falhar, você pode tentar derrotar o monstro ouvindo a música inteira, e não apenas o trechinho repetitivo que está tocando na sua cabeça.