De Santo Amaro a Xerém, um encontro lindo e inédito em Porto Alegre

Foto: Tony Capellão / No Palco

Um encontro que ninguém imaginava: a menina de Santo Amaro da Purificação (BA) e o rapaz de Xerém (RJ). A abelha rainha, que adora um samba de roda, dona de uma voz poderosa e o Zeca que leva o pagode no nome e tem um carisma único. A Mangueira e a Portela. Maria Bethânia e Zeca Pagodinho juntos no mesmo palco.

“De Santo Amaro a Xerém”, o famoso espetáculo que une o poder talentoso de Bethânia com o carisma de Zeca, finalmente chegou em Porto Alegre, nesta última quarta-feira (28). Com um Auditório Araújo Vianna completamente lotado, os dois traçaram uma viagem por grandes canções do samba em um show de pouco mais de 1 hora e 30 minutos.

A dupla entrou de mãos dadas, Zeca com seu terno branco e Bethânia vestida com sua elegância sincera, cantando o samba composto por Caetano Veloso especialmente para o espetáculo, “Amaro a Xerém”. A divisão de vocais seguiu com “Sonho Meu”, clássico da falecida Dona Ivone Lara, canção na qual uniu a dupla durante uma gravação de um DVD.Os dois se separam em “Você Não Entende Nada”, outra de Caetano, quando Zeca deu uma nova versão para a bossa e Bethânia mostrou uma versão acelerada de “Cotidiano”, de Chico Buarque.

Depois da sequência com Caetano, Chico e Ivone Lara, foi a vez da dupla saudar a plateia e apresentar a banda formada por grandes músicos das bandas de Zeca e Bethânia. A direção do show é dividida entre Paulão Sete Cordas (“dele”) e Jaime Alem (“dela”), a formação inclui, além dos dois diretores (violões), Rômulo Gomes (baixo), Paulo Dafilin (violão e viola), Marcelo Costa (bateria e percussão), Jaguara (percussão), Esguleba (percussão), Paulo Galeto (cavaquinho) e Vitor Mota (sax e flauta).

Foto: Tony Capellão / No Palco

Após recitar um poema escrito por Leandro Fragonesi, sobre o espetáculo, Maria Bethânia deixa o palco e da espaço a Zeca Pagodinho. O carioca de Xerém, decidiu não se aventurar e mandou o que está acostumado a fazer: seu samba. O momento solo de Zeca foi aberto com “A Voz do Morro” e só teve sucessos de sua carreira como “Verdade”, “Não Sou Mais Disso”, “Vai Vadiar”, “Samba Pras Moças” e “Maneiras”. A plateia, claro, não pôde perder a oportunidade de sambar durante as clássicas canções de Zeca.

Ogum”, canção de Zeca Pagodinho e que já foi dívidida com Jorge Ben Jorge, dá a deixa para a volta de Bethânia ao palco. Ela declama a Oração de São Jorge e leva os mais religiosos à loucura.

Foto: Tony Capellão / No Palco

Maria Bethânia também recorre a grandes sucessos do seu passado e apresenta, durante seu solo, canções como “Falsa Baiana”, “Pano Legal”, “Reconvexo”, “Negue”, “Ronda”, e uma versão de “Quixabeira”, do Carlinhos Brown. Sempre adora por seus fãs, Bethânia faz do espetáculo ‘De Santo Amaro a Xerém’ um show solo e inclusive com suas emblemáticas citações.

Zeca volta ao palco para defender sua escola de samba do coração, a Portela. Ele mostra “Portela na Avenida”, o samba enredo da escola “Lendas e Mistérios da Amazônia” e “Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida”. Já Bethânia, mangueirense de coração, defendeu seu barracão com “A Surdo Um”, “Exaltação À Mangueira” e o samba enredo feito em sua homenagem “Maria Bethânia, a Menina dos Olhos de Oyá”.

Com a apresentação se encaminhando para o final, os dois voltaram a cantar juntos e apresentaram grandes surpresas no repertório. Começando por “E Daí? (Proibição Inútil e Ilegal)”, da Maysa, e as versões belas e dramáticas de “Desde Que o Samba É Samba” e “Naquela Mesa”. Zeca sempre bem humorado, diz que Bethânia o fez cantar Silvio Caldas e então pediu ajuda a intérprete para apresentar a canção “Chão de Estrelas”. Depois foi a vez do repeteco do sambinha de Caetano, “Amaro a Xerém”, levar a dupla ao bis.

Na volta, os dois lavaram a alma da plateia que já estava em pé a espera do grande clássico: “Deixa a Vida Me Levar”. Zeca pedia encarecidamente, para que os seguranças removessem as grades para que as pessoas pudessem chegar em frente ao palco, mas não foi atendido. O grande clássico de Gonzaguinha, e interpretado lindamente por Maria Bethânia, “O Que É, O Que É” foi a escolhida para encerrar a apresentação.

Noite linda e inesquecível em Porto Alegre. Um show totalmente para cima, que não deixa ninguém desanimado. E o que falar dos anfitriões? Celebramos o carisma de Zeca Pagodinho, o talento de Maria Bethânia e um dos melhores repertórios que esse país já viu.