Roger Waters promove em Porto Alegre uma noite épica de música e consciência

Um dos maiores artistas do mundo esteve em Porto Alegre pela quarta vez. Na última quarta-feira (1º), Roger Waters se apresentou na Arena do Grêmio, trazendo sua turnê ‘This Is Not a Drill’. Foi uma apresentação histórica, com um repertório de 22 músicas, abrangendo clássicos do Pink Floyd e novas composições de Waters, além do essencial ativismo do artista em prol dos direitos humanos, denunciando crimes de guerra, entre outras questões.

Às 21h10, um anúncio ecoou pela Arena, marcando o início de uma noite memorável: “Se você é um daqueles que diz ‘Eu amo o Pink Floyd, mas não suporto a política do Roger, você pode muito bem se retirar para o bar agora”. Este prelúdio intrigante deu início a um espetáculo que transcendia as barreiras da mera performance musical.

O show teve início com uma nova versão de “Comfortably Numb“, onde Roger Waters, trajado como um médico e empurrando uma cadeira de rodas, uniu sua voz às talentosas backing vocals Shanay Johnson e Amanda Belair, proporcionando uma interpretação singular desta canção icônica que ecoa na história da música.

O poder e dimensão do espetáculo chegou com o medley de “The Happiest Days of Our Lives” e “Another Brick in the Wall“. Os quatro leds que compunham o cenário visual lançaram uma poderosa crítica, transmitindo mensagens como “Nós somos bons? Eles são mais? Quem diz isso? O governo!”, “Não preciso de armas”, “Faça amor, não guerra” e “Taxar os ricos, não os pobres”.

A sequência da euforia proporcionada pelo eterno sucesso do Pink Floyd foi interrompida por “The Powers That Be“, uma composição solo de Roger Waters lançada em 1987. Nas telas LED, homenagens foram prestadas a figuras que perderam suas vidas devido a crimes violentos, como Marielle Franco, George Floyd, Anne Frank e muitos outros. “The Bravery of Being Out of Range“, outra canção solo de Waters, direcionou um olhar crítico para os Estados Unidos, expondo os presidentes Reagan, Bush, Clinton, Obama, Trump e Biden, como possíveis criminosos de guerra. O bloco de composições solo de Roger Waters culminou com “The Bar“, uma música especialmente criada para esta turnê.

Foto: Lucas Alvarenga

Do ano de 2023, o espetáculo nos transportou a 1975 com “Have a Cigar“, levando a loucura os fãs mais fervorosos do Pink Floyd. Waters dedilhando seu vilão fez uma emocionante homenagem a Syd Barrett, um dos fundadores do Pink Floyd. Waters compartilhou lembranças sobre o início da banda ao lado de Barrett antes de conduzir a plateia a um dos hinos mais emblemáticos do rock, “Wish You Were Here“. Este tributo a Barrett emocionou a todos, reforçando o legado do músico na história da banda. A jornada pelo passado culminou com “Shine On You Crazy Diamond (Parts VI-IX)“, celebrando a memória de Syd Barrett de maneira tocante.

Sheep“, uma faixa do icônico álbum ‘Animals’, inspirada por George Orwell e sua obra “A Revolta dos Bichos”, trouxe uma ovelha gigante para a pista. A canção, lançada em 1977, crítica o conformismo na sociedade e projetou, nas telas LED, exemplos de pessoas que seguem cegamente seus líderes, sem questionar.

Após um intervalo de 20 minutos, Roger Waters e sua banda retornam ao palco para uma sequência de clássicos do álbum ‘The Wall’. “In the Flesh” é reinventada mais uma vez, com Waters deixando de lado seu uniforme de ditador para aparecer no palco amarrado a uma camisa de força e sentado em uma cadeira de rodas. Enquanto isso, um porco inflável flutua pela plateia, trazendo consigo a provocativa mensagem “Ele é maluco, não dê ouvidos”. Em “Run Like Hell“, encerrando o bloco ‘The Wall’, Waters desafia a plateia com a pergunta intrigante: “Há um paranóico na Arena esta noite?”.

Roger apresenta duas faixas de seu álbum solo mais recente, “Déjà Vu” e “Is This the Life We Really Want?“. Em “Déjà Vu”, Waters presta uma tocante homenagem aos palestinos, com as telas LED projetando imagens de cidades devastadas e pessoas que sofrem nos horrores da guerra. Uma mensagem na tela clama para “parar com o genocídio”, acrescentando uma camada de significado profundo à apresentação.

A celebração dos 50 anos do icônico álbum ‘The Dark Side of The Moon’ chega ao palco com a clássica “Money” e “Us and Them“, destacando a impressionante performance vocal do guitarrista Jonathan Wilson. A sequência, fiel à ordem original do álbum, segue com a instrumental “Any Colour You Like” e culmina com a emocionante interpretação de “Brain Damage” e “Eclipse“. Nesse ponto, a produção do espetáculo atinge proporções monumentais, trazendo para o palco a famosa pirâmide e o arco-íris presentes na icônica capa do álbum. Este momento se torna inesquecível para todos os presentes, capturando a essência da obra-prima do Pink Floyd de maneira magnífica.

Com a emoção no auge e o encerramento se aproximando, Roger toca uma canção do Pink Floyd considerada como lado B na discografia da banda, “Two Suns In the Sunset“. Em seguida, Roger interpreta novamente a canção “The Bar” e presta homenagem ao seu irmão mais velho John, que faleceu recentemente. A apresentação é encerrada com “Outside the Wall“, com Waters apresentando sua banda na saída do palco sob os primeiros pingos da chuva torrencial que caiu logo após o show.

O show de Roger Waters não foi apenas uma apresentação musical, mas uma jornada transcendental, onde a música se uniu à conscientização, ativismo e crítica social. A poderosa presença de Waters e a espetacular produção visual e musical tornaram o show histórico e inesquecível para todos os que tiveram o privilégio de testemunhá-lo.