Gilberto Gil chega aos 80 anos esbanjando (cri)atividade

Filho de uma geração prodigiosa, o cantor, compositor, escritor, produtor, multi instrumentista e ex-Ministro da Cultura Gilberto Gil chega aos 80 anos neste domingo (26). E, com mais de 55 anos de carreira, sempre foi referência e participou (e protagonizou) de alguns dos principais momentos da história das artes brasileiras. Seja na música, no comportamento, na literatura ou na política.

Sempre cercado dos amigos, como os icônicos Doces Bárbaros, supergrupo que formou com os eternos parceiros Caetano, Bethânia e Gal percorreu o país lotando ginásios na década de 70; participou de diversas edições dos festivais da MPB, nos anos 60; protagonizou a criação da Tropicália, movimento nascido após a vitória de Alegria, Alegria, de Caetano e do segundo lugar de Domingo no Parque no Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967; no Festival Phono 73, acompanhando Chico Buarque e contrariando a ordem federal de não cantar ‘Cálice’, ajudou a expor toda a censura da ditadura, ao vivo, com o corte dos microfones enquanto tentavam executar a canção; e realizou turnês históricas com Jorge Ben Jor, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Stevie Wonder em distintas fases de sua carreira.

Mas, para muito além disso, o baiano tem em seu catálogo criações que tornaram-se ícones transgeracionais em álbuns como ‘Tropicália ou Panis et Circencis’, ‘Expresso 2222’, ‘Refazenda’, ‘Refavela’, ‘Gil e Milton’ e em canções como Realce, Andar com Fé”, “Se eu Quiser falar com Deus (imortalizada por Elis Regina, numa versão visceral), Aquele Abraço, Esperando na Janela, Palco, Vamos Fugir entre tantas outras músicas que frequentam há décadas as playlists (ou vitrolas! ou walkmans! ou ipods!) dos brasileiros bem como Pela Internet, do álbum ‘Quanta’ (1997), vencedor do primeiro de seus dois Grammys Latino e que foi premonitória quanto à importância da internet para o mundo num futuro muito próximo.

Na seara política Gil sempre foi bastante ativo. Em 1976, foi preso em Florianópolis, por posse de maconha no hotel e gerou uma comoção nacional. Foi perseguido, censurado, preso e exilado político durante a ditadura militar. Mais tarde se elegeu vereador de Salvador em 1989 e durante mais de cinco anos foi Ministro de Estado da Cultura durante os governos Lula (2003-2008). Foi neste período que ele protagonizou o icônico show durante a Assembleia Geral da ONU acompanhado pelo então secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, no atabaque, durante Toda Menina Baiana

Nos últimos anos ele atuou em projetos como o especial da Rede Globo ‘Ivete, Gil e Caetano’, que gerou CD e DVD em 2012; a celebração dos 50 anos de parceria com Caetano Veloso na turnê ‘Dois Amigos, Um Século de Música’ que se tornou um giro internacional de quase dois anos que percorreu Brasil, América Latina, Europa e EUA; e compôs um trio com Nando Reis e Gal Costa –  o ‘Trinca de Ases’ – que virou turnê e DVD em 2018. Antes de tudo isso, ele gravou um disco em homenagem a Bob Marley – ‘Kaya N’Gan Daya’ (2002) – com regravações e versões do rei do reggae.

PRESENTE E FUTURO

Hoje octogenário, Gil segue sendo um dos mais ativos e criativos artistas da nossa cultura. Com a saúde em dia, voz intacta e uma mente em permanente efervescência ele continua compondo, gravando, tocando muito – seja em shows esporádicos ou em longas turnês. Suas músicas seguem trazendo inovações harmônicas, suas letras seguem questionando a sociedade e suas mazelas e sua arte segue exaltando a negritude e jogando luz sobre as identidades nacionais e regionais. Atualmente ele é embaixador da Boa Vontade, da FAO/ONU; em 2021, Gil foi eleito para a 20ª cadeira da Academia Brasileira de Letras, tornando-se um imortal da literatura nacional. Neste 2022, Gilberto Gil ganhou uma mostra virtual na plataforma Google Arts & Culture, para celebrar os oitenta anos do artista brasileiro.

Hoje, no dia do seu aniversário (26), Gil reestreia na Alemanha sua turnê ‘In Concert’ que rodará por nove países europeus e pelo Marrocos por mais de um mês. Este giro repete a banda formada por integrantes da família que rodou a mesma Europa em 2021, na companhia de Adriana Calcanhotto. Em março de 2023, Porto Alegre receberá este mesmo show no Araújo Vianna, dia 3, com ingressos à venda no Sympla.

GIL E O RIO GRANDE DO SUL

Nestes mais de 50 anos de carreira Gilberto Gil sempre trouxe suas turnês e projetos ao estado e percorreu alguns dos principais palcos do RS. Mas alguns marcaram a nossa história. O primeiro foi em julho de 1976 com Gil sendo preso em Florianópolis, apenas dois dias antes da tour dos Doces Bárbaros chegar a Porto Alegre para tocar em duas noites esgotadas no Gigantinho. Mas com a prisão, os shows foram cancelados e os valores dos 20 mil ingressos vendidos, devolvidos. Uma nova data foi marcada para 16 de outubro no mesmo local, quando nove mil pessoas assistiram à apresentação. Outro foi o show de inauguração do Teatro Univates, em Lajeado, em 2014, com o “Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo”. Mas, vinte anos antes, em 1994 no Gigantinho em Porto Alegre, Gil dividiu o palco com Stevie Wonder, durante a tour conjunta pelo Free Jazz Festival, que teve a presença de seis mil pessoas. A turnê passou ainda por Rio e São Paulo. E em 2005, já como Ministro da Cultura, o baiano esteve no Anfiteatro Pôr do Sol, dividindo palco com Manu Chao, cantando para mais de 100 mil pessoas de diversas nacionalidades, durante o Fórum Social Mundial.

Então Gil, aguardamos pelo nosso reencontro em março do ano que vem para fazermos parte de mais um momento inesquecível em nossas vidas.