O vila, A Terreira da Tribo e a resistência ao sucateamento dos espaços culturais – por Betina D’Avila

Pensar na Porto Alegre de alguns anos atrás é lembrar da cidade que transbordava cultura. A capital, que já foi referência para o país pela diversidade de lugares e movimentos artísticos, hoje é reconhecida por seus aparelhos culturais sucateados e pelo fechamento de importantes espaços para as manifestações artísticas.

Os exemplos são, infelizmente, muitos e constantes. O Teatro de Câmara Túlio Piva, que por mais de trinta anos recebeu público e artistas no bairro Cidade Baixa, foi fechado há quase quatro anos para obras e ainda não tem data marcada para voltar à ativa. A Usina do Gasômetro, recentemente fechada para obras com previsão de dois anos para conclusão, também está sem calendário otimista. Os mais de onze grupos de dança e teatro que lá ensaiam foram realocados temporariamente, e as apresentações e exposições de arte não têm mais onde acontecer.

Essas notícias somam-se à lista antiga de importantes espaços, como o Teatro do Ipê e o Teatro da OSPA (que segue na luta pela construção de sua sala acústica), o Centro Cenotécnico e o Hospital Psiquiátrico São Pedro (que abrigada ensaios e apresentações de mais cinco grupos de teatro). Além do fechamento de espaços privados, como o Teatro Novo DC e o Teatro do Instituto.

Paralelo ao poder público, a Fundação Iberê Camargo também é alvo do desinteresse: com menos de dez anos em atividade, o cartão postal, projetado por Álvaro Siza e premiado na Bienal de Arquitetura de Veneza, hoje só recebe o público aos sábados e domingos. A instituição perdeu grande parte do incentivo de seu maior patrocinador e agora luta para (re)despertar o interesse do porto-alegrense.

A diminuição de espaços para viabilizar e veicular a expressão artística gaúcha nos preocupa como Associação Cultural, mas também nos move. Nos colocamos como atores nesse furacão que atinge os espaços da nossa cidade a partir de um dos nossos eixos norteadores: arte e cultura. O Vila Flores é, antes de tudo, um espaço cultural.

O Vila resiste com suas portas abertas a expressões de todo gênero. Nossos espaços multiuso abrigam exposições, ensaios, apresentações, palestras e toda atividade que dialogue com a arte e a cultura diversa e tolerante. Tudo isso no Distrito Criativo de Porto Alegre, um ambiente que recria a esperança na criatividade e na cultura da cidade.

Entre as atividades que acontecem aqui, em março receberemos a comemoração de 40 anos da Terreira da Tribo, o coletivo teatral de maior expressão e resistência em Porto Alegre. A Terreira surgiu em plena ditadura militar como forma de difundir a liberdade e, por isso, se faz ainda atual e necessária hoje. O evento, que acontece no dia 24 de março, além de celebrar a vida do grupo, também almeja arrecadar fundos para a manutenção do coletivo.

Atualmente, a companhia sobrevive em um prédio alugado na rua Santos Dumont, no bairro São Geraldo. Mas o quadro, claro, deveria ser diferente. Há uma década, a Terreira aguarda a realização da promessa do poder público: a construção de uma sede definitiva. O endereço já existe: Rua João Alfredo, 709. No entanto, as obras parecem estar esquecidas pela prefeitura e paralisadas pela burocracia e pela escassez de recursos públicos.

Enquanto esperamos por iniciativas públicas, tomamos para o cidadão o poder de continuar construindo o cenário cultural de Porto Alegre. Aqui, acreditamos na união do coletivo, de pessoas e iniciativas multidisciplinares que têm na arte e na cultura um propósito comum.

SAIBA MAIS SOBRE O EVENTO E CONTRIBUA PARA A MANUTENÇÃO DA TERREIRA DA TRIBO.

Quando: Sábado, 24 de março, às 16h

Onde: Vila flores

Quanto: R$20,00