“Hoje em dia a grande saída é você ser o mascate de você mesmo” diz Lenine em entrevista

O músico que se apresenta em Porto Alegre no próximo domingo, concedeu entrevista ao Jornal No Palco no qual falou sobre o show e sua visão de mercado. Confira.

No próximo domingo 3 de abri, o músico Lenine realiza uma apresentação especial, na qual terá seu repertório executado pela Orquestra da Unisinos. O show acontecerá no Parque da Redenção a partir das 11h30min.

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Além de sucessos da carreira, o concerto mostra pela primeira vez músicas do novo disco do cantautor, Carbono, transpostas para o universo sinfônico. O repertório do show inclui músicas de várias fases da carreira de Lenine, como “Lavadeira do rio”, “Leão do Norte”, “Silêncio das estrelas” e “Paciência”. De Carbono, estão garantidas “O Universo na cabeça do alfinete” e “À meia noite dos tambores silenciosos”, gravados com A Martin Fondse Orchestra e Letieres Leite & Orquestra Rumpilezz.

O show faz parte da programação da na Virada Sustentável que ocorre nos dias 1, 2 e 3 de Abril na capital gaúcha.

 

Confira parte da entrevista concedida pelo músico

NP: Para você que já toca com uma certa frequência com orquestras, como poderia descrever esta experiência? 

Lenine: A gente nunca se costuma com isso. É sempre uma expectativa renovada porque trata-se de um exercício coletivo da música. Cada orquestra tem um sotaque, um relevo e tudo passa por uma adequação que a gente só descobre isso fazendo. Então é tudo sempre novo.

NP: Como funciona normalmente o processo de produção desses shows?

Lenine: Eu tive a oportunidade de ao longo do tempo de trabalhar com orquestras e arranjadores diferentes e parte do meu repertório já tem arranjos pra isso o que facilita pra todos. E vendo isso dentro universo acadêmico você tem alguma coisa escrita, no qual todos se reúnem e interpretam aquilo de forma coletiva, o que faz com que o processo seja muito rápido e aconteça naturalmente.

NP: Algum destes shows te marcou de forma significativa?

Lenine: Olha eu faria de novo todas. Como eu venho da música popular, você ali com cinco pessoas já faz a festa. Está tudo plugado e tem toda essa roupagem. E eu compositor fico muito orgulhoso de as canções que fiz terem sido dessa maneira. E antecede o fato de eu cantar minhas musica o fato de eu ser compositor, eu diria até que quase 50% do que eu já produzi foi pra para outros interpretes, compositores e até mesmo outras expressões como teatro, cinema e dança. Eu só me sinto adequado a cantar parte daquilo que componho. Então por essas coisas cada experiência acaba sendo única. Eu faria tudo de novo.   

NP: Com essas novas mudanças no fonográfico e o acesso a novas tecnologias, como o Protus por exemplo, no qual hoje qualquer pessoa pode ter seu próprio estúdio em casa. Se você pudesse botar em uma balança, diria que isto ajudou de fato o crescimento do mercado ou de certa forma banalizou o artista?

Lenine: Seria necessário umas duas balanças pra te responder isso porque é uma equação que muda muito. Houve um tempo em que a equação de se você expor algo que você produzia, significava frequentar três ou quatro rádios, três ou quatro programas de televisão e assim estava fechado um ciclo dentro desse mercado. Eu acho que isso não existe mais há algum tempo. Não existem mas regras e cada vez vai ser mais difícil surgirem pessoas que cantam para milhões, agora está tudo mais pulverizado. São os milhares para milhares e está sendo muito novo a mudança de tudo isso. Então, é difícil de vermos de forma exata, pois, as equações mudam e as balanças também. Seria necessário botar para pesar muitas outras coisas como por exemplo, dentro desse universo digital, que se facilitou e democratizou o processo de gravar um disco. No qual, antigamente isto era um obra dos ‘deuses’. Isso fez com que se tivesse um ganho no padrão de qualidade, de autonomia e de descoberta. Mas por outro lado, a internet de alguma maneira irradiou um paradoxo, que eu chamo de ‘paradogmas’, de que na rede é tudo de graça e livre, o que na verdade não é.

NP: Se você pudesse deixar um recado ou alguma dica para os músicos que estão ingressando agora no mercado, qual seria ela?

Lenine: Eu defendo que hoje em dia a grande saída é você ser o mascate de você mesmo. Que no caso, é você botar o que faz nas costas e sair levando pra todo o canto. Eu tenho feito isso a vida toda e acredito que este seja o caminho. Considero necessário você focar em fazer alguma que traga prazer e que te melhore como ser humano. O que há hoje é um tentativa de cada um em se adequar as várias possibilidades de propagação que existem. E desta forma cada um tenta descobrir a sua, porque na verdade não existe uma “formula” concreta.

 

 

Por: Tony Capellão