Quase hora\papaizinho já vem

É quase hora

De chegar o papaizinho

E eu já me encolho

No meu cantinho

Eu o amo

Como ele me disse pra amar Jesus

Como se a noite fosse o som do açoite

E o roxo na pele-cruz

Dona Mãezinha sorri

Do dia dos mortos

Máscara mexicana

Ela também o ama

Mas ama mais quando ele demora

Dona Mãezinha – noveleira desde novinha

Dona Mãezinha – guia minha – da eucaristia – a comer sozinha

Papaizinho – diz ela – era lindo quando sorria

Mas a repreendia por ser festeira – ela soube ser triste moça ainda

Papaizinho não sabe ser triste – sabe ser furioso

Eu vi os cascos dele – eu juro – no dia em que dele levei um murro

Senti giletes e morangos

Na boca e pensei que todos santos-como eu – devem ser mancos

Já que nunca nos salvam em tempo – mas vá lá que

Os murros – como os abraços – não são assim tantos

“Tu que catas os tapas!” – papaizinho me diz

Dona mãezinha faz “schhhh….”e  schhhh é como chamo São Francisco  de Assis

Meu santo favorito – pra quem oro quando aflito

Eu tô sempre aflito…

Everton Cidade

Everton Luiz Cidade é poeta. Autor de Santo Pó/P, O Bonde Transmutóide e QuiÓ. É vocalista da banda Siléste.