Carminho apresenta Jobim no tom dramático do Fado

Por: Lucas Viegas

Porto Alegre recebeu nesta semana uma das cantoras de maior gabarito na música portuguesa. A fadista Carminho lançou seu olhar peculiar sobre a obra do maestro brasileiro Antônio Carlos Jobim. A turnê “Carminho canta Tom Jobim”, iniciou a série de shows por Porto Alegre e seguiu para apresentações no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Belo Horizonte.

Na quarta feira, dia 22, às 21:10, Carminho subiu ao palco do Teatro do Bourbon Country e não deixou o fado de lado ao executar o repertório de Tom Jobim durante quase 1 hora e meia de show. A banda não poderia ser mais apropriada: Paulo Jobim (violão), Daniel Jobim (piano), Jaques Morelenbaum (violoncelo) e Paulo Braga (bateria); todos ex-integrantes da Banda Nova, que acompanhou o maestro durante mais de 10 anos. Poucos artistas conseguiram a façanha de reunir filho e neto junto com um dos mais reverenciados multi-instrumentistas do país.

A cantora começou a apresentação com a recitação de um trecho de “Sabiá”, na voz de Fernanda Montenegro. Na sequência vieram “Inútil Paisagem” e “Estrada do Sol”. Bastante comunicativa, entre uma música e outra, Carminho falava de suas parcerias no disco com Marisa Monte, Chico Buarque, Maria Bethânia e Fernanda Montenegro. Das quatro vezes em que o público aplaudiu a cantora de pé, a mais intensa foi após a interpretação de “Luiza”, onde ela colocou toda a dramaticidade do fado numa das músicas mais emblemáticas do mestre Jobim. O público, de aproximadamente 1.000 pessoas, aplaudiu demoradamente.

Em “Retrato em Branco e Preto” ela contou sobre o pedido dela a Chico Buarque para a mudança na letra: trocar o termo ‘você’ por ‘tu’, pois, segundo ela, tanto em Porto Alegre, quanto em Portugal, o ‘você’, para falar de amor, é um termo muito impessoal, muito superficial. O ‘tu’ torna os dois mais íntimos no contexto e na relação. E nisso, Chico teria dito: “Este é o primeiro caso de uma versão de uma música de um mesmo autor para uma mesma língua”.

Os porto alegrenses gostaram muito do que viram na quarta-feira. Uma Carminho feliz com o que fazia e competente ao que se propusera. E depois de ver também Antônio Zambujo cantando Chico Buarque, em 2016, no mesmo teatro, a cidade aguarda a próxima atração portuguesa a reverenciar outro ícone da música brasileira.

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Fotos: Gustavo Garbino